Uma jornada sensorial pelos Jardins Franceses

Caminhar por um clássico jardim francês, pode levar você a um labirinto verde,

impecavelmente cuidado, onde arbustos são esculturas vivas. Desafiador e enigmático, assim se apresentam os jardins franceses.

Os labirintos também estiveram presentes nos jardins italianos, porém os franceses elevaram os labirintos a um outro patamar, criando gigantescos quebra-cabeças verdes que instigavam a exploração e também a reflexão.

Perder-se em um labirinto era muito mais que um jogo, carregavam um simbolismo profundo que muitas vezes levavam a introspecção e à descoberta de si mesmo.

Luiz XIV, o Rei Sol era obstinado em domesticar a natureza, o monumental jardim do Palácio de Versalhes, também continha um labirinto. Este labirinto espelhava o poder absoluto do Rei Sol. Pode-se traçar um paralelo entre o labirinto complexo e a intrincada teia de poder de Luiz XIV em sua corte, onde cada movimento era cuidadosamente calculado e controlado.

Caminhar por esse labirinto remetia o visitante a experiência de submissão ao poder real.

Labirinto do Castelo de Villandry

 

A Simbologia Verde dos Jardins Franceses

Os elementos dentro de um clássico jardim francês são cuidadosamente selecionados, vejamos o que encontramos nesses espaços:

Controle e Ordem na Natureza através da geometria e a topiaria.

A geometria vem expressa em linhas retas, ângulos retos e formas geométricas perfeitas. Uma imposição humana na tentativa de dominar e controlar a natureza, objetivando colocar ordem racional sobre o caos.

Ao podar as plantas com formas geométricas ou de animais, com a técnica da topiaria, externa como o ser humano pode moldar a natureza de acordo com seus desejos.

Jardins de Versalhes

 

O Poder e a Glória

Os longos e retilíneos eixos, que atravessam os jardins, simbolizavam o poder e a autoridade do Rei que controlava tudo o que se encontrava ao longo desse caminho.

Fontes refletiam a riqueza do proprietário do jardim e, como vimos nos jardins italianos, simbolizavam vida, renovação e abundância.

As estátuas representavam figuras históricas ou mitológicas, que exaltavam o poder e a glória do proprietário.

 
                                            Jardim de Versalhes

Perfeição e Harmonia

A simetria é um princípio básico no jardim francês clássico. Sua função era buscar a perfeição e a harmonia do homem com a natureza.

As cores das plantas e flores também tinham significados mais profundos. Cores quentes como vermelho e amarelo simbolizavam paixão e vitalidade, enquanto azuis e verdes, são cores mais frias que carregavam mais serenidade e calma.

 

O Paraíso na Terra

O mistério e o sagrado eram representados pelas grutas, que vinham acompanhadas por águas cristalinas e iluminação suave. Portais para outro mundo.

Os labirintos além do que já vimos, simbolizavam também as provações e a busca pela verdade nos caminhos da vida. Mas também representavam o paraíso, como um lugar de deleite e prazer.

 

Calendários Florais

As escolhas de plantas que florescem em épocas diferentes marcam a passagem do tempo durante o ano.

  

Castelo de Villandry

Desvendar a simbologia dos jardins franceses indica como eles utilizavam a natureza para transmitir mensagens complexas sobre ordem, poder, beleza e espiritualidade.

 

A influência dos Jardins Franceses na Arte e na Literatura

Com todo esse peso simbólico no jardim francês, fica muito claro o motivo de inspirarem muitos artistas e escritores durante séculos.

Diversos pintores tomaram os jardins renascentistas como cenários em suas obras.

Claude Lorrain e Jean-Honoré Fragonard retrataram as paisagens bucólicas em suas telas. Estátuas, fontes, a luz, a sombra e a perspectiva dos jardins franceses foram elementos capturados para expressar a beleza e a harmonia desses lugares.

  Paisagem Pastoral, Claude Lorrain                   

  

          O Balanço, Jean Honoré

 

A escultura sempre presente nos jardins franceses inspiraram artistas, fossem em magníficas fontes ou em estátuas mitológicas ou alegóricas, simbolizando a riqueza dos proprietários desses espaços.

 Estátua de Netuno nos Jardins de Versalhes

 

Com o surgimento da fotografia, a beleza natural, a simetria e arquitetura dos jardins, foram tema popular entre os fotógrafos .

Romances e poesias extraiam dos jardins cenários e metáforas para a vida, o amor, a beleza, a natureza.

Segredos e mistérios povoavam a mente dos escritores e poetas, que se envolviam na romântica atmosfera dos jardins. Sem falar nos contos de fadas que surgiam dos labirintos e elementos mágicos de jardins encantados e encantadores.

 

Os Jardins Franceses e os Outros Estilos

Os Jardins Franceses com sua formalidade contribuem na arte e literatura com pinturas e poemas que valorizavam a ordem, a harmonia e a beleza clássica.

Já os Jardins Ingleses, com sua atmosfera mais naturalista e selvagem, são associados a sentimentos melancólicos, românticos e de liberdade.

A impermanência, os ciclos da natureza da vida e a busca pela paz interior vem do simbolismo rico dos Jardins Japoneses. Tema que será abordado mais profundamente em um próximo post. Não perca!

Todos os estilos de jardim têm sua forma de idealizar a natureza.

Os franceses a dominam, os ingleses a celebram, os japoneses a reverenciam e os italianos a humanizam.

Todos eles serviram de tema para arte e a literatura. Seja oferecendo um contexto visual e emocional para as histórias ou como metáforas para a vida, o amor, a sociedade e a espiritualidade.

Cada estilo, com suas ricas características, influenciaram a maneira como a natureza era percebida e representada.

 

As Principais Influencias dos Jardins Clássicos Franceses

Poderíamos classificar principalmente no século XVII:

- Reinado de Luís XIV: o Rei Sol era apaixonado pelos jardins. Isso os colocaram no seu auge, pois o Rei Luís XIV fez deles uma forma de demonstrar o seu poder absoluto e sua riqueza.

- André Le Notrê: foi de jardineiro a paisagista do Rei Sol, sua genialidade na concepção e construção dos jardins do monarca, tornaram os jardins clássicos franceses mais famosos.

Jardim de Versalhes, uma obra monumental, Jardins de Vaux-le-Vicomte, Jardins da Tulherias e Jardins de Chantilly são suas obras mais importantes na França. Também realizou outros jardins na Europa.

-Influência da cultura clássica: os jardins franceses foram fortemente influenciados pela cultura clássica greco-romana, com suas ideias de ordem, perfeição e harmonia.

Embora tenham raízes no Renascimento, foi no século XVII, durante o reinado de Luís XIV alcançaram seu ápice e se tornaram símbolo da cultura francesa.

Da Rigidez à Liberdade, a Evolução dos Jardins Franceses

Com o passar dos séculos, o controle sobre a natureza e a expressiva ordem foram transformando-se. Uma abordagem mais natural e espontânea foram ganhando espaço nos jardins. Reflexo de mudanças sociais e culturais.

A influência do movimento romântico, no século XVIII, onde os sentimentos e a natureza eram mais valorizados, começaram a ser percebidos nos jardins. Paisagens mais naturais e o surgimento de mais lagos com ruínas incorporadas, começam a ser comuns.

A Floresta Sagrada-Domaine de Chaumont-sur-Loire, por Jean Pierre Dalbéra

 

No século XIX a paisagem de beleza natural e irregular dos jardins ingleses, marcam presença nos jardins franceses. O jardim como extensão da casa, com uma atmosfera mais íntima e familiar ganham força entre os franceses.

 

Os Jardins Franceses Contemporâneos

O combinar de estilos, mesclando elementos clássicos com outros estilos, como o japonês ou inglês, torna-se comum.

A preocupação com o meio ambiente e a sustentabilidade trouxe uma maior utilização de plantas nativas, sistema de irrigação eficientes e práticas de jardinagem orgânica.

Os jardins franceses de hoje em dia ficam cada vez mais parecidos com os proprietários dos mesmos. Personalizando de acordo com o gosto e o estilo de vida de cada um.

A geometria e a simetria ainda tem seu valor porém a rigidez dos clássicos jardins foram atenuadas com formas mais orgânicas e livres, até mesmo na topiaria.

Como todos os estilos que vimos até aqui, a evolução foi acontecendo. No início uma busca pela perfeição e controle da natureza, agora a busca é de conectar-se com a natureza e com a nossa própria humanidade.

 

 

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